Festival de Jazz do Valado de Frades

Jazz no Valado 2013

O Festival de Jazz do Valado dos Frades detém um capital de simpatia único entre os festivais nacionais, em grande medida consequência da popularidade de Adelino Mota, o seu director.
Figura incontornável do Jazz nacional, Adelino Mota multiplica-se em projectos como músico, como professor e como divulgador. A Big Band da Nazaré e o Jazz no Valado serão os seus projectos mais conhecidos, mas o seu trabalho como educador mereceria outro reconhecimento. De qualquer forma, alguns dos músicos de Jazz que por aí andam a dar cartas nasceram «das suas mãos».
A sede do festival localiza-se na Biblioteca de Instrução e Recreio do Valado dos Frades, embora ao longo dos anos ele se tenha também realizado noutros locais, e o festival recebeu desde sempre o carinho da Biblioteca, da Freguesia e da Câmara da Nazaré.
Ao longo dos anos também, o festival adoptou diversas fórmulas, fiel à quase exclusividade na programação de projectos nacionais. Este ano o Jazz no Valado estendeu-se ao longo de dois meses e dez concertos. A programação incluía projectos de Carlos Bica, João Capinha (um nazareno), Sérgio Carolino e Daniel Bernardes (ambos de Alcobaça), Sofia Ribeiro e Nelson Cascais, além de outros concertos de escolas de Jazz e um «concerto comentado».
Assisti ao último fim de semana do festival, o Daniel Bernardes Trio que apresentava «Nascem da Terra» e o Mingus Project de Nelson Cascais.

Daniel Bernardes Trio
A estreia de Daniel Bernardes, um natural da região, foi algo perturbada pela emoção, que não conseguiu ainda assim esconder os dotes do jovem pianista, que creio influenciado esteticamente pelos trabalhos mais recentes de Bernardo Sassetti. A procura de um som original esteve sempre em confronto com a matriz clássica da formação de Daniel Bernardes esteve sempre em evidência, acentuada pela participação de um violoncelo que toca em alguns temas do disco.
Uma boa estreia de um jovem talentoso.

The Mingus Project
O The Mingus Project pretende celebrar a música de um dos mais arrebatados músicos da História do Jazz, Charlie Mingus. A obra de Mingus tem sido objecto de atenção, tendo gerado vários projectos; alguns dos quais passaram por Portugal.
Em Portugal no entanto a música de Mingus é raramente tocada, e em boa hora pois surge este projecto do também compositor, líder e contrabaixista Nelson Cascais.
O grupo que se apresentou no Valado não é a formação habitual do projecto, integrando o seguro, mas eu diria menos fogoso (que Diogo Duque), João Moreira.
Mas eu diria que também Nelson Cascais evitou mimetizar a personalidade temperamental de Charlie Mingus, o que até pode ser considerado avisado, mas um pouco mais de expansão (fogosidade) não lhe ficaria mal.
O concerto cingiu-se, e bem, ao repertório de Charles Mingus, com evidência para Goodbye Pork Pie Hat (dedicado a Lester Young) ou Fable of Faubus, uma diatribe ao senador do Arkansas Orval E. Fabus que defendia a separação entre as raças.
Bom concerto, bastante aplaudido.